segunda-feira, fevereiro 27, 2006

A invenção de uma agenda política

O “caso da Teresa e da Lena” mostrou-nos como um grupo de interesses particular se alia de forma eficiente aos valores do jornalismo dominante para impor ao país uma agenda política que ninguém sufragou

(...)em Dezembro passado, o Expresso proclamava em primeira página que um milhão de portugueses eram homossexuais. O estudo, como se podia ler nas letras pequeninas da ficha técnica, depara-se contudo com a recusa de resposta por parte da maioria dos entrevistados e a sua amostra não era representativa do universo. Isso não impediu o Expresso de somar homossexuais e bissexuais, chegar aos míticos dez por cento e, depois, extrapolar para os dez milhões de portugueses, como se até os recém-nascidos fossem sexualmente activos.

De forma consciente ou inconsciente, a verdade é que o caminho ficou assim aberto para que, em finais de Janeiro e início de Fevereiro assistíssemos à montagem de um incidente destinado a obter larga cobertura mediática com o objectivo confesso de promover uma agenda política particular: a “tentativa” de casamento de duas lésbicas de Aveiro num cartório de Lisboa.

(...)Foi uma operação exemplar em que, como sublinhou Manuel Pinho no blogue Jornalismo e Comunicação, “as fontes, por efeitos da sua crescente organização e profissionalização, ou em consequência de se terem socializado nos valores-notícia do jornalismo dominante, encontrariam, cada vez mais, formas de influenciar e marcar a agenda mediática. O ‘caso Teresa e Lena’ constitui, nos tempos mais recentes, um dos melhores exemplos desse poder de agendamento. E tem todos os ingredientes para pôr um certo jornalismo a salivar. Foi pensado para isso e vai seguramente conseguir o que projectou. Veremos.”(...)

A verdade é que entre o mau jornalismo do Expresso, o hábil agendamento mediático do caso (simpático) da Teresa e da Helena e as petições entregues na Assembleia e subscritas por jornalistas e directores de jornais (como fizeram a repórter que cobre estes temas no Diário de Notícias, assim como o seu director e um dos seus directores adjuntos), acabámos perante uma daquelas situações onde antes mesmo de se expor um argumento já se está catalogado e ninguém está disponível para ouvir.

José Manuel Fernandes Na Revista Atlântico

sábado, fevereiro 25, 2006

Então, em que é que ficamos...

Na secção de economia do DN de hoje lê-se:

  1. José Sócrates reafirma a meta dos 150 mil empregos ;
  2. Segundo o INE os desempregados podem atingir 545 mil em 2007 .

Bom... Pelo menos sabemos que o 1.º Ministro está a fazer da sua parte.

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Onde é que assino?

O eng. Sócrates propôe-se fazer “reformas” a partir da esquerda. Só que a esquerda não quer as reformas – incluindo a maior parte do PS. À direita, curiosamente, pouca gente percebeu ainda este problema, que é a chave de tudo. O PS escolheu o eng. Sócrates para ganhar eleições, mas nunca para fazer os cortes e mudanças, que ele, antes de chegar ao Governo, teve o cuidado de não anunciar ou até de negar. A vida governativa do eng. Sócrates está toda marcada por estes equívocos. Não pode fingir que há dinheiro, mas também não pode afastar-se da esquerda. Em suma, não consegue escolher: perante duas opções, adopta um bocadinho das duas. Por isso, ao mesmo tempo que corta a ração aos dependentes do Estado Social, alimenta sempre as miragens do desenvolvimento por intermédio do Estado. Diminui a burocracia por um lado, e cria subsídios cheios de alçapões burocráticos pelo outro. Com este governo, o Estado tornou-se um milagre da física: diminui e aumenta ao mesmo tempo.

Ultimamente, o Governo descobriu um meio simples para realizar esse milagre. O Estado português é o Estado mais centralizado da Europa. Ora, esta centralização permite uma coisa: concentração. Para justificar a concentração, há vários alibis, como a deslocação da população, ou as novas tecnologias. O eng. Sócrates percebeu assim que podia fazer poupanças através da simples retracção do dispositivo burocrático no território. Vai fechar 4000 escolas. Já tem na mira 68 postos de atendimento médico permanente. Gostaria de abolir freguesias. E por aí fora. Num país descentralizado, isto seria impossível. As instituições fariam parte das comunidades locais, e os serviços seriam geridos por elas. Em Portugal, não. Independentemente das leis e dos discursos, quase tudo o que há nas províncias é, na realidade, delegação do Governo central, com atribuições secundárias e poucos recursos próprios. Ou seja, por essas montanhas e planícies pouco há cuja existência, localização ou funcionamento não esteja à mercê de um decreto ou portaria assinados em Lisboa. Previsivelmente, a retirada do Estado vai acelerar a desertificação do interior. Quer escola primária a menos de uma hora de casa? Quer junta de freguesia? Se é novo, ainda está tempo de fazer a mala. Já tínhamos um jardim, agora vamos ter também um Estado à beira-mar plantado. Poupa-se assim dinheiro? Certamente. Há outras justificações para a retracção estatal? Provavelmente. Mas então a questão seguinte é esta: para que servem as despesas, a que o eng. Sócrates chama “investimentos”, nomeadamente as célebres “SCUTS”, que este Governo nos obriga todos a pagar como um imposto contra a desertificação? Economiza-se em escolas, hospitais, freguesias, e um dia destes em tribunais e repartições de finanças. Mas continua a gastar-se em estradas, supostamente para fixar população em regiões onde depois se fecham escolas, hospitais, etc. – por não haver lá gente. Onde está a lógica? Mas não vale a pena perguntar nada a este Governo. Teríamos uma resposta de manhã, outra de tarde, e um desmentido no dia seguinte. Isto antigamente chamava-se “trapalhada”. E agora, chama-se o quê?

Rui Ramos, Historiador no Jornal de Negócios

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Sócrates: "investimento de 900 milhões de euros [da Portucel] é sinal de confiança"
















Na foto: "O contribuinte português" no papel de "investidor involuntário"

Rene Magritte, The Son of Man, 1964

Ipsis Verbis

Investidores Involuntários (do Blasfémias)

Nas notícias: (TSF)
«A Portucel vai fazer o maior investimento industrial em Portugal a seguir à AutoEuropa ao investir 900 milhões de euros numa nova máquina de produção de papel e na modernização das fábricas da empresa da Figueira da Foz e de Cacia, em Setúbal, noticia o «Jornal de Negócios». Este negócio envolve uma nova máquina de produção de papel deverá conseguir produzir dois quilómetros de papel por minuto, mas também uma contrapartida do Governo em incentivos fiscais e financeiros na ordem dos 175 milhões de euros, o valor máximo permitido pela União Europeia. A Portucel fica ainda a ganhar em termos de acessos por estrada e combóio, assegurando também um maior escoamento portuário, beneficiando ainda de uma nova política para a floresta, onde se passa a apostar numa política contra incêndios e plantação de eucaliptos em terrenos baldios.»

No
Jornal de Negócios:
Portucel dispara mais de 9% e fixa novo máximo histórico.

Aumento da capitalização bolsista da Portucel de ontem para hoje:
131 milhões de euros.

O que aconteceu:
Estado subtrai 175.000.000 de euros (mais o que não se diz) aos contribuintes e oferece-os a accionistas privados de uma empresa.A sociedade, ganha ou perde?
Perde. Há destruição de valor. O aumento de riqueza dos accionistas é, tudo indica, inferior ao montante da oferta pública de impostos.

Em resumo.
Uma empresa privada quer fazer uma nova fábrica. A empresa privada, que concorre no mercado com outras empresas também privadas, pede ajudas ao estado. A empresa privada, aproveita para meter no pacote tudo o que tem à mão, desde recuperações de fábricas antigas, equipamentos novos, provavelmente bastantes despesas de manutenção corrente. Melhorias que lhe darão vantagens face à concorrência. O estado aceita esta estratégia, de modo a que a sua participação não pareça tão grande. 175 em 900 soa melhor que 175 em 400, 500 ou 600. Além disso, paga estradas, linhas férreas e oferece seguros contra incêndios, entre outros. Da parte às claras são cerca de 50 euros por cada português activo pagador de impostos no sector privado da economia. Do resto, que se lê nas entrelinhas, nem sabemos quanto.

Razão tem o João Miranda, como sempre. Vale sempre a pena desconfiar de certos investimentos privados, principalemente quando são anunciados por políticos. Somos nós, os contribuintes, que pagamos grande parte da factura. Somos investidores involuntários, sem direito a dividendo.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Mourinho: The Great Dictator

Since his arrival in Britain 18 months ago Jose Mourinho's style, arrogance and Iberian good looks have charmed and irritated in equal measure. As his Chelsea team prepare to meet Barcelona this week, Peter Conrad argues that Mourinho's militancy and shameless self-belief are rooted in his country's fervent attachments to family, religion and politics.

Mourinho fascinates and mystifies us because he is foreign. One tabloid calls him a 'Portu-geezer', while another likens him to a jellyfish with a painful sting, a 'Portuguese man o'war'.

Quem será que o está a pagar agora?

Ministro admite Serviço Nacional de Saúde pago em parte pelos utentes

Como uma forca

Portuguese Soccer Near Collapse After $1 Billion Arena Spending

The 10 arenas built or refurbished for the 2004 European Championship have turned into white elephants. They are victims of no-shows, fans who can't afford to buy tickets because of the economy's demise, and increasing maintenance bills that are hurting teams who play on the fields.

(via Contrafactos&Argumentos)

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

O país a saque!

O Governo liderado por José Sócrates nomeou em 11 meses, 2.148 pessoas.

De acordo com a edição de hoje do jornal «O Independente», que consultou os Diários da República nesse período, o primeiro-ministro assinou 260 despachos conjuntos que, somando às suas próprias nomeações directas e às do conselho de ministros, perfazem 423 indigitações.

O jornal - que titula em capa «Chuva de Boys» - refere ainda que José Sócrates tem 15 secretárias pessoais, 18 assessores e 13 adjuntos no seu gabinete de primeiro-ministro.

De acordo com o semanário «há nomes para todos os gostos e para todos os lugares: institutos, comissões, grupos e conselhos, direcções-gerais e chefias várias, empresas de capitais públicos ou participados pelo Estado, assessores adjuntos, secretárias, assistentes, auxiliares administrativos, consultores motoristas, governadores civis, gestores operacionais, coordenadores de unidades e representantes em órgãos internacionais, entre outros».

domingo, fevereiro 12, 2006

Ipsis Verbis

No blasfémias:

Com o 11 de Setembro de 2001, revelou-se, um pouco por toda a parte, um tipo de pessoas que adora o "mas".

São, aparentemente, atraídos pelo relativismo militante, custa-lhes ver aquilo que todos vêm, gostam de elaborar argumentos complexos para COMPREENDER (atenção...mas não justificar!!!) a realidade crua de alguns factos, sobretudo, daqueles que têm que ver com a imanente "clivagem" de civilizações (não, já evito falar de "choque") entre o denominado "mundo ocidental" e, designadamente, a "cosmovisão islâmica".

O 11 de Setembro, de Março e outros actos de terrorismo são lamentáveis, mas...

Os atentados dos grupelhos terroristas palestinianos devem-se condenar (aqui, para alguns da geração do "mas", esta condenação até é mesmo muito custosa!), mas....

Berra-se "morte a Israel", mas...

As declarações de certos Imãs fundamentalistas islâmicos serão, enfim, com alguma benevolência, "despropositadas" (matem, esfolem, etc., etc.), mas...

Os atentados à "liberdade de expressão" são para condenar, no caso dos cartoons dinamarqueses, mas...., no fundo, até eram de mau gosto!

Concerteza que devem também achar que a situação do Irão é preocupante, mas........., mas...!....., mas...!

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

A blogosfera está de luto

Morreu a Joana do Semiramis

Descobri o Semiramis há já não sei quanto tempo algo por acaso e depressa formei a opinião que, no seu campo, era o melhor blog Português.

Com o passar do tempo o apreço foi-se reforçando e a minha curiosidade acerca de quem realmente seria a Joana foi crescendo.
Haveria de ser alguém muito interessante, uma daquelas pessoas que vale realmente a pena conhecer, alguém com quem deveria dar muito prazer conversar. Como deveria ser fantástico fazer tertúlias com a Joana! Aposto que seriam daquelas tertúlias tão estimulantes que até do tempo se perda a noção.

Através da leitura dos seus textos formei da Joana uma imagem de alguém muito interessante, inteligente, perspicaz, lúcida, sagaz... Com uma escrita clara, escorreita, correctíssima e muito rica. Senhora de uma vastíssima cultura.

Há dois dias recebi uma notícia que me deixou muito triste: um amigo havia perdido uma pessoa que lhe era muito especial. Fiquei triste ao ver a partida cruel que o destino lhe tinha pregado. Ontem fui dar-lhe um abraço. Fomos conversando... e eis qual não foi o meu choque e espanto quando soube que, afinal, Joana era o pseudónimo virtual dessa pessoa tão especial para o meu amigo. Sempre é verdade que uma má notícia nunca vem só: o meu amigo perdeu de forma inesperada e prematura alguém que lhe era tão especial, eu perdi uma das minhas leituras preferidas e Portugal perdeu um dos seus espíritos mais brilhantes.

Agora sei o seu verdadeiro nome, mas não sei quem realmente foi. Gostaria do o saber, em parte porque gosto de conhecer aqueles que admiro e em parte porque intuo que tenho muito a aprender com a sua vida, da qual apenas conheço alguns (muito poucos) factos esparsos.

Creio que seria de toda a justiça que se prestasse uma homenagem a Joana, coligindo alguns dos seus textos mais significativos e atemporais e publicando-os conjuntamente com uma nota biográfica.

A ti, amigo a quem o destino tem sido pouco generoso, quero reiterar a minha amizade, solidariedade e admiração. Acredito que a morte não é o fim, mas tão só uma passagem para aldo melhor, por isso quando alguém que me é querido falece fico triste porque o meu mundo fica mais pequeno e mais pobre, mas fico também com a consolação de que para quem parte o futuro será melhor.

Bem haja Joana!
Obrigado pelo conhecimento que transmitiu e pelas ideias que partilhou!

Portugal no seu melhor (2)

O PSD da Madeira quer examinar as faculdades mentais de um deputado regional do PS.

Portugal no seu melhor (1)

O Presidente da República empreendeu uma visita clandestina a Nelas, onde se escondeu durante trinta breves minutos, antes de zarpar em sossego para Penalva do Castelo. Para evitar Canas de Senhorim e a sua já antiga histeria, o dr. Sampaio decidiu portar-se à altura de um foragido: reduziu a “visita” ao mínimo, elaborou um programa “secreto”, com direito a alterações “secretas” e só não usou um disfarce porque conseguiu passar mais ou menos desapercebido. Belo exemplo! Bela forma de representar o Estado! (n' O Espectro)

Desculpe?... "Estão bem uns para os outros"?

Vitalino Canas no Parlamento: «As agressões simbólicas e materiais a Estados e cidadãos europeus merecem certamente a nossa repulsa, nada legitima esse actos hediondos, estão bem uns para os outros, os caricaturistas irresponsáveis e os fundamentalistas violentos, ambos só podem ser alvo da nossa condenação».

Quando é que percebe? A "Liberdade de expressão é «princípio sagrado»".

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Isto é que vai ser um fartote rapaziada!

PS avisa que aborto está antes de casamentos 'gays'
Consta que a JS pressiona já para a legalização das drogas duras e para a abertura de espaços públicos de injecção assistida.

Ipsis Verbis

A ler artigo de Francisco José Viegas no JN, sobre a lamentável declaração do MNE.
Ele Ofende-nos
"Não sei se o Governo pensa exactamente aquilo que Freitas do Amaral disse. Porque, se pensar, os cidadãos que se preparem. Ideias daquelas ofendem-nos a todos. E ameaçam-nos."

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Que sociedade

Existe em Portugal um grupo de pessoas que com a falência dos seus ideais económicos e sociais elegeram como cavalo de batalha a luta contra a religião e a luta contra a família.

De facto, depois do falhanço económico das políticas que propunha e que preconizou, que fez esquecer velhos mitos da "sociedade sem classes" e "ditadura do proletariado", - veja-se a situação ainda muito actual da luta contra o capital, a visão conflituante da empresa; a defesa da intervenção do Estado, toda paga com impostos dos trabalhadores, - esse grupo de pessoas virou-se contra a religião.Nesta nova “era” essa velha ideologia, hábil no relacionamento com os média, não parece que possa invocar-se como outrora, como defensora da causa dos mais pobres e dos mais desfavorecidos.

Os seus seguidores, por um lado, estão de forma sistemática a atacar a igreja, cujas instituições sociais escolas, hospitais, lares, misericórdias, centros de acolhimento de imigrantes, etc, etc, etc, são os apoios sociais de que os pobres e desfavorecidos carecem.
A par da luta contra a religião, esquerda passou a promover temas que, mais uma vez, nada têm a ver com o interesse dos pobres. Questões como o aborto, a eutanásia, as uniões de facto, a prostituição, o casamento e a adopção por homossexuais, etc. Serão estas causas dos pobres?

Não. De facto parece tratarem-se de manias de intelectuais pedantes, que procuram alcançar o protagonismo perdido, levantando bandeiras sociais que, a serem adoptadas tornariam a sociedade no túmulo do Homem.A sociedade deve ser encarada como sendo constituída por indivíduos por famílias, como sendo o berço e não o túmulo da individualidade. A sociedade e os seus hábitos e tradições moderam e limitam a sua perversidade natural.
Adoptado este principio todas essas questões levantadas pelos dos ditos progressistas, teriam uma resposta simples.

Ultimamente, dadas as derrotas eleitorais averbadas por essas auto denominadas forças progressistas, e dado o impasse surgido relativamente à questão do aborto, surgiu, do nada, a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo… Pergunta-se: terá esta questão alguma relação com os mais pobres e desfavorecidos, que vivem hoje, em muitos casos situações dramáticas de desemprego, de alarmante subida do custo de vida de forma em muitos casos insustentável, que são vítimas do estado actual da saúde, da educação ou da justiça?
A resposta só pode ser negativa. A pertinência desta polémica é nenhuma.

E o seu valor de facto? Em que é que esta pode melhorar a sociedade? Vejamos:
Deverá a sociedade dar direitos iguais aos casais homossexuais daqueles que dá aos casais tradicionais? Será natural a educação de uma criança educada por dois pais ou por duas mães? Quais serão as suas referências? Será um dos caminhos para a promoção da natalidade, num país onda há cada vez mais de idosos e cujos problemas dos carenciados são resolvidos muitas vezes por uma segurança social que dada a curva descendente da natalidade parece poder atingir a ruptura?

No que concerne à questão do casamento, a actual lei civil tem uma redacção equilibrada, segundo o artigo 1577.º do Código Civil, o «casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida». Verifica-se, assim, que o objecto deste contrato é a «constituição de família», subentendendo esta a uma «plena comunhão de vida». Nos fins da existência da «família» incluí-se, naturalmente, a procriação, razão pela qual se impõe a diferença de sexos como elemento típico do contrato.

Estas incursões da esquerda, estas suas “novas” bandeiras sociais, são muito perturbadoras e precisam de uma resposta efectiva da sociedade pois, a grande luta dos nossos dias é a de saber que tipo de sociedade que pretendemos, sabendo que mediante a escolha efectuada esta será o berço ou o túmulo do indivíduo.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Ipsis Verbis

A ler, artigo de João Miguel Tavares, no DN, sobre a Encíclica do Papa Bento XVI, Deus Caritas Est. Essencialmente pelas referências ao conteúdo da encíclica.

Deus Caritas Est é a encíclica de um Papa que entendeu e digeriu a secularização do mundo, mas que também vê na falência das ideologias uma nova oportunidade para a Igreja. Nesse sentido, é um documento inteligentíssimo, que se centra naquilo que é o fundamento da fé cristã, e que qualquer sociedade civilizada dificilmente rejeitará a necessidade do amor e da caridade.

Na sua primeira encíclica, Bento XVI sublinha o que muitos há muito esperam ouvir.
Que o amor carnal (eros) não pode ser separado do amor espiritual (agape), [necessitando] o eros de "disciplina" e "purificação".
Que a Igreja "não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado", "mas também não pode nem deve ficar à margem da luta pela justiça".
Que a "caridade cristã deve ser independente de partidos e de ideologias", porque é precisamente daí que advém a sua força diante das dificuldades causadas pela "globalização da economia", "a doutrina social da Igreja tornou-se uma indicação fundamental", que pode chegar "muito além das fronteiras eclesiais". Bento XVI cita Santo Agostinho "Um Estado que não se regesse segundo a justiça reduzir-se-ia a um bando de ladrões."
Ao velho marxismo, que o Vaticano ajudou a enterrar, o novo Papa contrapõe um modelo liberal: "Não precisamos de um Estado que regule e domine tudo, mas de um Estado que generosamente reconheça e apoie as iniciativas que nascem das diversas forças sociais."

Com o mundo num impasse político, entalado entre fundamentalismos vários e um modelo capitalista que agrada a poucos, Bento XVI pressentiu uma janela de oportunidade. Em vez de se ocupar a impor regras morais aos homens, preferiu realçar a necessidade de fazer o bem. Deus Caritas Est é a terceira via do Vaticano uma viragem (…) com a qual o Papa tenta conquistar um mundo insatisfeito e carente de orientações.

Sobre as caricaturas de Maomé

«O que é que prejudica mais o Islão, estas caricaturas ou as imagens de um tomador de reféns que ameaça degolar a vítima à frente das câmaras ou ainda um suicida que se explode no meio de casamento em Amã?».
A Pergunta é do director do jornal jordano al-Shihan, Jihad Momani, que reproduz hoje três das caricaturas do profeta Maomé.

PS: de referir, no entanto, que os cartoons ofenderam mil milhões de seres humanos que têm o direito de acreditarem no que entenderem. O direito de publicação e o direito de indignação são ambos válidos.