sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Ipsis Verbis

A ler, artigo de João Miguel Tavares, no DN, sobre a Encíclica do Papa Bento XVI, Deus Caritas Est. Essencialmente pelas referências ao conteúdo da encíclica.

Deus Caritas Est é a encíclica de um Papa que entendeu e digeriu a secularização do mundo, mas que também vê na falência das ideologias uma nova oportunidade para a Igreja. Nesse sentido, é um documento inteligentíssimo, que se centra naquilo que é o fundamento da fé cristã, e que qualquer sociedade civilizada dificilmente rejeitará a necessidade do amor e da caridade.

Na sua primeira encíclica, Bento XVI sublinha o que muitos há muito esperam ouvir.
Que o amor carnal (eros) não pode ser separado do amor espiritual (agape), [necessitando] o eros de "disciplina" e "purificação".
Que a Igreja "não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado", "mas também não pode nem deve ficar à margem da luta pela justiça".
Que a "caridade cristã deve ser independente de partidos e de ideologias", porque é precisamente daí que advém a sua força diante das dificuldades causadas pela "globalização da economia", "a doutrina social da Igreja tornou-se uma indicação fundamental", que pode chegar "muito além das fronteiras eclesiais". Bento XVI cita Santo Agostinho "Um Estado que não se regesse segundo a justiça reduzir-se-ia a um bando de ladrões."
Ao velho marxismo, que o Vaticano ajudou a enterrar, o novo Papa contrapõe um modelo liberal: "Não precisamos de um Estado que regule e domine tudo, mas de um Estado que generosamente reconheça e apoie as iniciativas que nascem das diversas forças sociais."

Com o mundo num impasse político, entalado entre fundamentalismos vários e um modelo capitalista que agrada a poucos, Bento XVI pressentiu uma janela de oportunidade. Em vez de se ocupar a impor regras morais aos homens, preferiu realçar a necessidade de fazer o bem. Deus Caritas Est é a terceira via do Vaticano uma viragem (…) com a qual o Papa tenta conquistar um mundo insatisfeito e carente de orientações.