terça-feira, maio 23, 2006

Ipsis Verbis: Ser oposição

No princípio era o PPD. Nasceu com o 25 de Abril, Sá Carneiro e a chamada ala liberal do antigo regime. O Partido cedo se mostrou popular, fazendo assim jus ao nome: Partido Popular Democrático. O Democrático deve ter sido acrescentado para desafiar a esquerda e mostrar reconhecimento pela chamada Revolução dos Cravos. Na altura, só a Esquerda era verdadeiramente democrática. Basta dizer que havia duas Alemanhas e só uma – a comunista – era “democrática”: a República Democrática (a outra era Federal – RFA).

No Portugal de Abril, a Direita desapareceu: o Partido menos à Esquerda denominava-se mesmo do centro – Centro Democrático e Social. O respeitinho é muito lindo. Quanto ao PSD, os seus dirigentes cedo perceberam que, para ganhar eleições, além de “democratas” precisavam de ser “sociais”. Daí a mudança de nome para Partido Social-Democrata. Foi assim que o País entrou na Era do Social. Socialistas e comunistas podem sempre ser vistos como sociais elevados à potência.

Evidentemente que na mudança de nome também pesou o medo. Toda a Revolução tem uma contra-revolução – os factos são sempre reaccionários – e por isso o PS um dia poderia sempre acrescentar um D ao nome. Certo é que a mudança de nome se traduziu em mais votos e fez do PSD a única grande alternativa ao PS. O País ganhou em estabilidade democrática, mas perdeu em pluralismo ideológico. E, com o tempo, descobriu-se que a grande escolha é, afinal, entre dois partidos sociais-democratas. Ou, se quisermos, entre dois Partidos Socialistas (embora um, como costuma dizer um amigo meu, seja a Diesel: PSD).
(Continua )

José Manuel Moreira no Diário Económico