sexta-feira, janeiro 20, 2006

Conservador - Liberal

O conservadorismo é uma corrente politico-filosófica que defende que as melhores instituições não são aquelas que resultam de projectos feitos a partir do nada, mas sim de uma evolução gradual e “natural” ao longo dos séculos.

A base do conservadorismo é o pessimismo antropológico, a ideia de que o homem é naturalmente egoísta. Ao contrário dos “progressistas”, que consideram que o homem é naturalmente bom, racional e feliz e que é a sociedade que o torna mau e infeliz (e, portanto, para melhorar o homem, basta melhorar a sociedade), para os conservadores, o homem é egoísta e é a sociedade e os seus hábitos e tradições que moderam e limitam a sua perversidade natural. Assim, para os conservadores, o indivíduo só existe plenamente integrado numa sociedade e numa tradição – o indivíduo abstracto não existe: nós só somos o que somos em função da herança (material e cultural) que recebemos dos nossos antepassados (“Não são os indivíduos que formam a sociedade, mas a sociedade que forma os indivíduos”, diz Louis de Bonald). Esta submissão do indivíduo à sociedade, à primeira vista, poderia aproximar os conservadores dos seus arqui-inimigos, os socialistas e comunistas, mas, na verdade, estamos a falar de coisas diferentes com a palavra “sociedade”: para os socialistas, a “sociedade” são os outros indivíduos, enquanto para os conservadores, a “sociedade” é constituída pelos hábitos,

Após a Segunda Guerra Mundial, o conservadorismo perdeu muita da sua especificidade ideológica, tornando-se uma espécie de liberalismo económico (relativamente moderado) conjugado com um politica externa “forte”.

Nos anos 60/70, por reacção aos protestos estudantis dá-se um renascimento de um conservadorismo mais tradicional, defensor da família, da moral, autoridade, “lei e ordem”, etc. Inclusivamente, muitas pessoas até então de esquerda passaram a considerar-se conservadoras nesse aspecto (os chamados “neo-conservadores”)

Hoje em dia o conservadorismo tende a caracterizar-se por: a defesa “lei e da ordem” e dos valores tradicionais, religiosos e familiares; uma postura forte em política externa; e uma economia liberal. Diga-se que a defesa do liberalismo económico, por vezes, leva alguns conservadores a dizerem coisas que são a antítese do conservadorismo tradicional – p.ex., quando Thatcher disse: “A sociedade não existe, apenas indivíduos e famílias” (em compensação, um dos seus ideólogos emendou a mão escrevendo um texto aonde afirmava que “a sociedade é o berço e não o túmulo da individualidade”, i.e., a posição conservadora clássica).

Conservadorismo e Economia: diferentes tendências
Numa versão simplista, poderemos distinguir duas grandes tendências:


Os conservadores da Europa Continental são (ou melhor, eram) anti-capitalistas e, sobretudo, anti-liberais. O seu ideal é (ou era) uma sociedade de tipo paternalista em que “os pobres respeitam os ricos e os ricos tratam bem dos pobres”.

No pólo oposto, temos o conservadorismo anglo-saxónico, que, por regra, é economicamente liberal: ao contrário dos “conservadores anti-liberais” e dos “liberais anti-conservadores”. A ideia do mercado como uma “ordem espontânea” vai de acordo com a ideia conservadora de que as melhores instituições são a que se desenvolvem gradualmente, e não de acordo com “projectos”.

No caso do conservadorismo americano, esse liberalismo é agravado pelo facto de todas as ideologias americanos serem mais “libertárias” que os seus equivalentes europeus (p.ex., enquanto, durante muitos anos, a extrema-esquerda europeia foi marxista-leninista, nos EUA o predomínio sempre foi para correntes anarquistas ou anarquizantes)

Mas, também este “liberalismo” é diferente do dos liberais: enquanto estes defendem o liberalismo económico em nome dos direitos do indivíduo contra a sociedade, os “conservadores-liberais” defendem-no, em larga medida, porque acham que premeia o trabalho árduo e a poupança, contribuindo, assim, para criar uma cultura de esforço, disciplina, sacrifício e comprimento do dever.

Tanto conservadores anglo-saxónicos como liberais afirmam que o governo não tem capacidade para resolver os problemas económico-sociais.
Não é raro, entre os conservadores de tipo anglo-saxónico, a ideia de que o liberalismo precisa de ser protegido por um certo conservadorismo.

Claro que é muito mais complicado do que uma simples separação geográfica: hoje em dia, cada vez mais os conservadores continentais vão-se convertendo ao liberalismo económico anglo-saxónico (veja-se o apoio de elementos da CDU alemã à “flat tax”, ou a defesa do liberalismo económico por Nicolas Sarkozi na UMP francesa).

Além disso, no século XX, muitos ideólogos de um conservadorismo liberal eram continentais - austríacos (mesmo que imigrados): como o economista Joseph Schumpeter ou Erik von Kuehnelt-Leddihn. Mesmo Hayek, que escreveu um texto a demarcar-se do conservadorismo (“Why I am not a conservative”), a partir dos anos 70 aproximou-se deste, afirmando que o socialismo e a planificação económica derivavam do espírito iluminista de quer reconstruir a sociedade de acordo com a razão, em vez de aceitar o resultado da evolução lenta e não-planeada.

Alguns conservadores:
Bismark, Chesterton, T.S. Eliot, Winston Churchill, Charles De Gaulle, Konrad Adenauer, Ronald Reagan, Margaret Thatcher, James Goldsmith, Pat Buchanan, Andrew Sullivan.