sexta-feira, janeiro 13, 2006

Ipsis Verbis

A ler artigo de Francisco José Viegas no JN.

(…) não tenho simpatia pelas ideias políticas de Álvaro Cunhal, citarei o seu nome diante do Forte de Peniche ou onde me apetecer. Jerónimo de Sousa, e uma corte de homens carregados de moral, ética e património histórico, investiram contra Manuel Alegre por esse facto. Eu saio a defender Manuel Alegre e seja quem for que alguém queira calar. Portugal está cheio de velhos e de novos estalinistas.

(…) Outro coro de gente vergada à moral, à ética e ao património histórico, apareceu a criticar Cavaco porque em Grândola se cantou "Grândola, Vila Morena", durante a visita que o candidato fez à vila alentejana. Escândalo. Não percebo, senão à distância, a virgindade ofendida. Ora, "Grândola, Vila Morena" foi um dos símbolos do 25 de Abril e, portanto, essa memória é comum e colectiva. Também é minha. Não admito que ma roubem; têm de me pedir licença.

(…) A ideia de que Manuel Alegre não pode citar os nomes que entender e em que circunstâncias entender, ou a de que os apoiantes de Cavaco Silva não podem, em Grândola, cantar "Grândola, Vila Morena", é mais do que absurda. Portugal mantém esses tiques ridículos. De vez em quando, aparece um desses pequenos sacerdotes nos jornais o senhor não pode falar sobre esse assunto; fulano não deve pronunciar-se sobre o outro assunto. Esta vontade de censurar, de proibir e de esganiçar a voz em tom escandalizado, é congénita a parte da alma portuguesa. É um estalinismo demasiado susceptível. E é uma pena.