quinta-feira, julho 28, 2005

O Governo e o Investimento Público

Em manifesto hoje (27 de Julho) publicado no Diário de Notícias, alguns dos mais reputados economistas da área socialista (e de outras áreas, são 13 ao todo) criticam os grandes projectos de investimentos públicos que o actual Governo pretende desenvolver.

«O investimento público não faz milagres "Parece ter emergido uma corrente de pensamento que acredita que a superação da crise pode estar no investimento em obras públicas, sobretudo se envolvendo grandiosos projectos convenientemente apelidados de estruturantes." "Porque a situação é séria e o País não pode, sem grandes custos, embarcar em mais experiências fantasistas, importa dizer (...) que a sua eventual concretização poderá ser desastrosa para o País."»

Esta crítica não é original, na verdade, tem sido quase generalizado o repúdio a projectos como o novo aeroporto da Ota e o TGV.

Como muito bem nota Francisco Azevedo e Silva, também no DN de hoje:
«[…] ao que parece, nem no Governo existirá consenso quanto à Ota e aos comboios de alta velocidade. Pelo menos foi essa a ideia transmitida pelo último artigo de Campos e Cunha (no jornal Público), interpretação que o ex-ministro nada fez para desmentir. A consequente exoneração do ministro das Finanças ao fim de apenas quatro meses de exercício, com efeitos fortemente negativos para a imagem do Governo, é prova de que os defensores do arranque imediato da Ota e dos comboios de alta velocidade não foram suficientemente convincentes quanto à bondade desses investimentos e menos ainda quanto à sua urgência num momento de grandes dificuldades financeiras do Estado. […]»

A favor destes projectos quase não se têm ouvido argumentos, até porque, segundo se sabe, apesar da obsessão do Governo na sua promoção, nem sequer estão devidamente estudados.

Também nós estamos contra estes projectos, não só pelo seu custo desmesurado e insustentável dada a actual situação das contas públicas, como também porque é evidente que a sua rentabilidade social e económica será muito baixa. Parece evidente para um observador lúcido, e prova disso tem sido a condenação generalizada dos projectos, mesmo por economistas da área ideológica e partidária do Governo, que a relação custo benefício será bastante desfavorável.

Mas se isto é realmente assim, como explicar a obstinação do Governo?

Porquê garantir com absoluta certeza que se avançará com projectos que não estão sequer ainda devidamente estudados, mas que não passam sequer a uma análise de bom senso?

Presumindo a seriedade dos Governantes, e nem sequer querendo sugerir que estes possam estar reféns de interesses que não o interesse geral, o mais benevolente que se pode sugerir é que este está a querer fazer um braço-de-ferro pretendendo com isso demonstrar capacidade de iniciativa e de acção. Uma espécie de birra de miúdo que se pretende afirmar, fazendo de conta que já é adulto.
Sucede, porém, que o assunto é demasiado importante para brincadeiras e os custos não são apenas demasiado elevados como vão comprometer o futuro, pelo menos por uma geração.

Isto faz-me lembrar a história do sujeito que, ganhando € 500 por mês, hipoteca a casa para comprar um BMW topo-de-gama, justificando à sua família que comprou o carro porque assim assegurará o enriquecimento da família, ou não é verdade que os tipos que andam de BMW são ricos? Sabem qual é o fim desta história, não sabem?