Talvez não acreditem,
mas tempos houve em que “liberal” não era um insulto. Há muitos anos, “liberalizar” significou, por exemplo, atenuar a censura e a repressão policial. Hoje, a maioria do público identifica “liberalização” com cortar subsídios e restringir regalias. Naturalmente, não gosta do liberalismo e muito menos dos liberais.
O uso de “liberal” ou “neo-liberal” para descrever pejorativamente as auto-correções do Estado Social tem sido muito útil aos interessados na manutenção do regime. A identificação do liberalismo como uma simples tendência sádica para cortar e restringir, permite-lhes evadir a verdadeira questão levantada a partir das tradições liberais: a possibilidade de elaborar um outro modelo social, assente na responsabilização dos cidadãos, e não no arbítrio do Estado. Infelizmente, os elementos não-socialistas da actual classe política não estão dispostos a assumir os debates necessários para desfazer o equívoco. Resta apenas um pequeno número de comentadores que, com um estoicismo quase incompreensível, não se importam de ser insultados ou ignorados. É pena. Porque seria interessante podermos finalmente dispôr, no horizonte da nossa política, de um liberalismo que não fosse o Estado Social contrariado, mas o contrário do Estado Social.
Rui Ramos in Diário Económico
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