Os fogos estão a apagar a memória do país. Da mesma forma que Estaline apagava as fotos dos membros do PCUS que eliminava. Nunca tinham existido.
Todos os anos prometem-se acções para que o ano seguinte não seja um inferno de chamas. As primeiras chuvas submergem todos esses sonhos. Este ano chegou-se ao cúmulo de, sobre os incêndios, os ministros sussurrarem. Não se mexem. Não há uma palavra sobre eles. Parece que quando tudo estiver queimado o problema se resolve por si. Sabe-se que o combate à catástrofe tem dois momentos: a prevenção e a capacidade para existirem meios eficazes de intervenção rápida. Não existe nem uma coisa nem outra. Todos os anos.
Um dia destes alguém dirá: os incêndios nunca existiram. Porque já não há floresta. in Jornal de Negócios
Já nem é a contabilização da área ardida que impressiona, nem as palavras vagas do Ministro explicando que espera conclusões de novo estudo para decidir a melhor forma de combater os incêndios. O que impressiona são os milhares de estudos que se produzem ano após ano em Portugal, e o que se faz com eles.
Repare-se: o estudo que o Governo diz aguardar não é seguramente menos competente do que o Livro Branco que o Governo de Durão Barroso preparou para aplicação imediata no Verão de 2004. Onde está esse estudo? Seria preciso pedir nova análise? A resposta óbvia, e não política, é "claro que não".
O Governo, portanto, pode pedir estudos – o problema é que, olhando a história nacional, se percebe que os estudos servem apenas para que não se tomem decisões.
O plano de Durão Barroso para combater os incêndios tem dois anos, pouco mais. O MInistro, pedindo um novo relatório, quer ganhar tempo para não decidir – basta apenas que as conclusões do estudo se demorem até ao Outono.
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