terça-feira, novembro 27, 2007

Grandes superfícies e pequeno comércio

Vi um pouco do programa Prós e Contras da RTP (segunda-feira 26-11-2007).
Pretendia-se debater o mundo do trabalho e, acessoriamente, a competitividade do país.
Fiquei muito surpreendido. Esta gente vê que o mundo muda, mas mantém as mesmas artroses mentais de há dezenas de anos.
O presidente da confederação do comércio aproveitou para contestar a abertura de novas grandes superfícies comerciais levando atrás de si a generalidade dos participantes, incluindo sindicalistas e ex-governantes, num preconceito anti-globalização e anti-capitalista. Na argumentação contra as grandes superfícies comerciais dizia-se que por cada emprego criado nestas empresas são destruídos quatro no comércio tradicional. Claro que todos os telespectadores compreenderam que as grandes superfícies são demónios terríveis e inumanos. É por isso que estou certo que a partir de agora as grandes superfícies vão ficar as moscas sem clientes. Estou convencido que os consumidores agora percebem que o facto de as grandes superfícies venderem muito mais barato, de prestarem um serviço de melhor qualidade e de lhes permitirem ir às compras quando lhes dá jeito é apenas uma forma do grande capital financeiro os escravizar e de lhes sugar o sangue. Louvado seja Deus! (parece que D. Januário Torgal Ferreira disse que é de esquerda, por isso agora já é politicamente correcto utilizar estas expressões…)
O Futuro depois dos avisos do presidente da Confederação do comércio, do Carvalho da Silva e de outros ilustres convidados do programa (todos da mesma linha de preconceitos…) é claro: os consumidores deixarão de ir às compras ao Continente, à Worten, à FNAC, ao IKEA, ao LIDL, ao MediaMarkt, ao Feira Nova… Passam a comprar tudo no comércio tradicional, que está aberto das 10h às 19h. Ora, como a generalidade das pessoas trabalham neste horário as donas de casa deixam de trabalhar por conta de outrem para puderem abastecer os seus agregados familiares, indo às compras quando as lojas estão abertas (o que significa uma redução significativa do rendimento das famílias. Os preços das lojas lá da rua são bastante mais altos, talvez quase o dobro. Mas as senhoras vão passar a ter tempo para ver os preços em muitas lojas, talvez consigam comprar só por apenas mais um terço do preço. Quanto à qualidade, o pais do pequeno comércio não se há de importar muito com isso…
Esse sim será o mundo perfeito: mais pobres, mas dignos e pioneiros na luta contra a terrível globalização e o capital sanguinário! Dignos e com grande superioridade moral porque menos consumo significa também menos desperdício e consequentemente, melhor ambiente!
Tenho de pedir desculpa ao pais pela minha falta de patriotismo, mas vou ter de continuar a ir às compras às grandes superfícies (em especial: FNAC, Continente e LIDL). É que não tenho ninguém que possa fazer as compras por mim e tenho de trabalhar durante o dia. Acresce que o dinheiro não é muito e por isso comprar por menos um terço ou metade do preço faz a diferença no meu apertado orçamento. Tenho ainda o defeito de valorizar a qualidade e não gostar de ser mal tratado.